CUSTO ZERO

Jessé Andarilho


Conheci o Bráulio Tavares em um dos encontros da FLUP (Festa Literária das Periferias). Na época eu era um aspirante a autor e ele disse uma parada que ficou marcada em minha memória.

Eu era apenas um sonhador e queria muito viver dos livros, mas sabia que para viver dos livros eu teria que viver para os livros. E conhecer aquele cara tão simples e humano, me fez acreditar que era possível.

“Literatura é uma superprodução a custo zero”

Ele falou isso e disse que a gente podia derrubar um helicóptero com uma caneta Bic. Também falou sobre a possibilidade de escrever na rua utilizando tijolos quebrados, ou sobre escrever na areia da praia com uma vareta.

Para muitas pessoas aquela fala nem teria tanta importância ou sentido, mas eu era o cara que estava escrevendo um romance no bloco de notas do meu celular Black Berry.
Depois de quase cinco anos tive o privilégio de estar numa mesma mesa de debates com o Bráulio, Conceição Evaristo, Walcyr Carrasco e outros grandes nomes da nossa literatura. E fui audacioso em revelar a importância daquelas palavras que me ajudaram a continuar caminhando, passo-a-passo, palavra-por-palavra, até poder estar presente naquele evento como um autor que hoje em dia vive das histórias criadas a custo zero.

Obrigado, Bráulio Tavares.


Jessé Andarilho é carioca. Escreveu seu primeiro livro, Fiel (Objetiva, 2014), no bloco de notas de seu celular. É autor também de Efeito variável (Alfaguara, 2017) e mantêm uma biblioteca popular na favela de Antares, onde cresceu.

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