Fábio Fernades
A primeira vez que vi Braulio Tavares eu nem sabia quem era o cabra. Foi no filme Parahyba Mulher Macho, de Tizuka Yamazaki, em 1983. A cena de Tânia Alves num desafio com o repentista cego foi para mim a melhor coisa do filme. Mal sabia eu que o sujeito era também escritor de ficção científica, e dos bons (eu acho o BT o melhor escritor vivo desse gênero no Brasil, pra ser brutalmente honesto).
Quatro anos depois, por intermédio de uma amiga, entrei em contato com Jorge Luiz Calife (colega jornalista e autor da primeira trilogia de ficção científica brasileira, Padrões de Contato) e o Calife me deu o telefone do Braulio – que eu já conhecia de nome, mas não pelo filme da Tizuka (eu só me dei conta de que o ceguinho era ele há poucos anos), e sim pelo livro O Que é Ficção Científica, da Coleção Primeiros Passos. Pra vocês verem a onipresença do sujeito.
O Bráulio é um dos sujeitos que eu mais admiro. Não lembro se eu já tinha ouvido falar de Samuel Delany antes, mas sei com certeza que foi ele quem me apresentou à obra-prima desse escritor norte-americano, Dhalgren – que nem eu nem ele, até onde sei, terminamos de ler, mas isso acontece. O importante é que o Braulio já era referência para mim pelas indicações literárias.
E quando eu li A Espinha Dorsal da Memória, foi um encantamento, porque eu percebi quantas possibilidades havia para um brasileiro escrever uma ficção científica que, bebendo nas fontes dos autores clássicos (como Philip K. Dick e o já citado Delany, entre muitos outros), ainda assim conseguiu produzir algo de incrivelmente original.
Até hoje fico admirado com o tanto que Braulio sabe, e leio vorazmente sua coluna quase diária no blogue Mundo Fantasmo, onde ele destila toda a sua verve de polímata, capaz de condensar várias enciclopédias, do Thesouro da Juventude à Encyclopedia of Science Fiction do John Clute e Peter Nicholls, passando pela Barsa e pela Britannica.
Também fiquei muito feliz por ter podido contribuir para um textinho na fortuna crítica do clássico A Espinha Dorsal da Memória, que finalmente vai ser relançado com a qualidade que sempre mereceu.
Ao Braulio, ídolo e amigo, meu abraço forte e parabéns pelos setenta anos bem vividos – e que venham mais setenta, que escritor de ficção científica é longevo por natureza!
Fábio Fernandes nasceu no Rio de Janeiro em 1966, mas vive em São Paulo, onde trabalha como professor universitário e tradutor. Autor entre tantos de Back in the URSS (Patuá, 2019), Interface com o vampiro e outras histórias (Writers, 2000) e Os Dias da Peste (Tarja Editorial, 2009).
Fábio Fernandes nasceu no Rio de Janeiro em 1966, mas vive em São Paulo, onde trabalha como professor universitário e tradutor. Autor entre tantos de Back in the URSS (Patuá, 2019), Interface com o vampiro e outras histórias (Writers, 2000) e Os Dias da Peste (Tarja Editorial, 2009).