Jeniffer Ferreira
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Eu me lembro do dia em que ouvi falar sobre Bráulio Tavares pela primeira vez, em uma aula da disciplina de Literatura Paraibana, durante o curso de Letras da Universidade Federal de Campina Grande. Resolvi iniciar este pequeno depoimento inspirado na forma como o próprio Bráulio escreve, em uma série de crônicas onde recorda momentos de sua vida. A memória sempre foi um tema repleto de afetividades e medos para mim, pois ao mesmo tempo que recordo de coisas ínfimas – como uma maria chiquinha que usei durante a minha formatura na alfabetização – e que me trazem sensações de conforto e alegria, me surgem lembranças de pequenos traumas que fui acumulando ao longo dos meus vinte sete anos.
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Eu me lembro que a memória foi o que me ligou à Bráulio Tavares. Apesar de nunca o ter conhecido pessoalmente, foram as suas recordações que me fizeram criar uma relação de proximidade tão forte com as suas obras, e em especial com as suas crônicas. Sempre tive uma relação de amor e ódio com minha cidade natal (Campina Grande), pois quando se é um jovem apaixonado por arte e cultura você anseia morar em um local que te permita vivenciar minimamente este universo. E Campina há muito deixou de ser um local onde se possa ter acesso digno a qualquer manifestação artística. Ao mesmo tempo, vejo na minha cidade um espaço acolhedor e sempre capaz de se reinventar, apesar dos pesares, e guardo inúmeras recordações de lugares onde vivenciei momentos marcantes de minha vida.
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O primeiro contato que tive com a escrita de Bráulio Tavares, foi lendo a crônica A Flor do coco, escrita por ele em 2005, em sua coluna diária no Jornal da Paraíba e lembro de ter ficado encantada com tamanha sensibilidade ao recordar um ato corriqueiro feito por sua mãe ao abrir o coco e oferecer aos filhos a primeira raspinha suculenta da polpa do fruto. Não comecei lendo A Máquina Voadora ou A Espinha Dorsal da Memória, ou sequer tendo contato com algum livro físico. Sentei na frente do computador, abri o seu Blog “Mundo Fantasmo” e lá estavam centenas de escritos autobiográficos que foram devorados até que minha miopia não suportasse mais a luz da tela do computador.
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Eu me lembro que ainda na graduação a professora Rosângela Melo, ao saber do meu interesse em pesquisar obras de autores paraibanos para o meu TCC, me sugeriu analisar as crônicas de Bráulio Tavares que falavam – ou traziam como tema – a cidade de Campina Grande, e assim o fiz. Foram vários meses debruçada sobre esses escritos e tive a sensação de adentrar, através das memórias de Bráulio Tavares, em uma Campina Grande que eu não conhecia. Uma Campina com cineclubes, Festivais de Viola, Cinemas e respirando Arte. Cada ponto de referência da cidade que ainda existe ou que foi engolido pelo passar do tempo, me fazia refletir o quão poderosa e intensa é a nossa memória. E a cada leitura tinha a estranha sensação de que sabia mais das recordações de infância e juventude de Bráulio Tavares, do que das minhas próprias. Uma identificação que só a literatura é capaz de proporcionar.
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Bráulio Tavares é sem dúvidas um dos maiores artistas brasileiros. Passeia com facilidade e maestria pelos mais variados campos artísticos e é motivo de orgulho e admiração para a Rainha da Borborema. Sua paixão pelo Treze Futebol Clube, as lembranças do Estadual da Prata, do Cine São José, do Calçadão da Cardoso Vieira e tantos outros lugares icônicos de Campina Grande que pude ler através de suas crônicas, me fazem refletir sobre o quanto a Paraíba ainda precisa valorizar e divulgar os escritores paraibanos. São 70 anos produzindo arte, valorizando a cultura popular e orgulhando Campina! Viva a Arte! Viva a Bráulio!
Jeniffer Ferreira nasceu em Campina Grande, na Paraíba. É mestranda no Curso de Formação de Professores da Universidade Estadual da Paraíba e estudiosa da obra de Braulio Tavares.